terça-feira, 12 de junho de 2012

É DE MINHA PENA

é de minha pena apenas a pena
são de meus sonhos apenas aqueles
que não se realizam é de minha
é de minha poesia somente
a cinza do morto jogada
n'água dos teus pesadelos

não é poesia o que faço mas somente sementes que jogo aos cães
é veneno que destilo pelos meus dedos somente veneno
nada que alimente sairá de meus lábios não espere que o tempo melhore
as nuvens escurecem e dos teus olhos somente se verá lágrimas tristes
não espere que eu componha um verso que fale de amor
não espere que eu escreva uma carta ao senador e que tudo mude de repente
o mar vai secar e não há nada que eu possa fazer
as estrelas vão cair e não há nada que deus nenhum possa mudar
o destino está traçado e as desgraças que teriam de acontecer pela eternidade
virão todas de uma só vez nesta sua vida desgraçada
não é poesia o que faço mas somente sementes que jogo para as aves de rapina

não é remédio o que trago nos frascos que carrego na alma
é veneno que recomendo que tomes para curar a tristeza do teu riso
não é alegria que estampa minha cara de idiota
não são sinceros os meus votos de felicidade
não é verdade que te amo
meu coração é de pedra pura não cabe nele nenhum tipo de sentimento que mereça
ser descrito em palavras somente as lágrimas das dores dos partos das mães mortas
somente o cheiro de perfume estranho que exala do corpo da prostituta morta
como menino triste que canta canções tristes de botequins são meus poemas
uma prostituta ensinou-me o que é o amor
por isso tenho esse olhar de peixe que morreu
por isso meus amores nunca foram descritos por poetas
por isso minha alma abandonou meu corpo a muito tempo

Não são poemas o que canto
são só frases soltas sem nenhum sentido
por isso homem de negócio nenhum perderá tempo aqui lendo minhas tristezas
vá embora você que veio até aqui e não se esqueça
vomite antes de chegar em casa.

Foto: Martin Munkacsi. Boys running in to the surf a Lake Tanganyika, 1931. Fonte: http://weimarart.blogspot.com.br/2011/06/oh-boys.html


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